domingo, 30 de septiembre de 2012

Rotina de apagões é desafio para o chavismo


Falta de investimentos leva a cortes diários de luz, e oposição capitaliza tema em campanha

BUENOS AIRES - Semana passada, o shopping Galerias Avila, localizado no bairro La Candelaria de Caracas, sofreu uma sucessão de apagões que provocaram profunda irritação nos venezuelanos que trabalham nesse importante centro comercial da capital do país. O drama das 234 lojas do shopping caraquenho não teve, porém, grande destaque na mídia local. Desde 2009, esse tipo de situação faz parte do dia a dia da população, em todos os estados do país. Nos últimos quatro anos, os cortes de energia elétrica são constantes e cada vez mais prolongados, transformando-se numa espécie de símbolo das falências do socialismo do século XXI implementado pelo presidente Hugo Chávez, candidato à reeleição no próximo domingo.
Se os programas sociais (as chamadas missões) são a carta mais forte do chavismo nesta campanha eleitoral, os apagões são uma das grandes pedras no sapato do presidente, ao lado da inflação galopante, do desabastecimento de alimentos e da insegurança.
Reclamações no Twitter
Cansados de viver às escuras, muitos venezuelanos utilizam as redes sociais para alertar sobre os apagões em diferentes estados e cidades do país. Basta digitar #sinluz (sem luz) no buscador do Twitter para saber onde está faltando energia elétrica na Venezuela. Os usuários se encarregam de denunciar o péssimo serviço da estatal Corpoelec, também chamada pelos venezuelanos de “Cortoelec”, em referência aos permanentes cortes.
Na sexta-feira, por exemplo, o usuário Javier Guerreiro comentou: “mais de 100 horas sem luz na última semana no estado de Anzoátegui”. Outro morador do mesmo estado, Carlos Vargas, assegurou que “não aparece nenhuma autoridade, Corpoelec, governo estadual, prefeitura, Cantaura (uma das cidades do estado) 48 horas sem luz, pessoas na rua, rodovia ocupada”. Outros venezuelanos, como Lorena Arraiz, tentam manter o bom humor: “ter um dia esgotante, chegar em casa e estar sem luz não tem preço. Para todo o resto, há o dia 7 de outubro”.
Nesta semana, especialistas do setor elétrico apresentarão, em Caracas, um documento no qual denunciarão, segundo confirmou o engenheiro Miguel Lara, "as mentiras do governo Chávez em relação à gravíssima crise energética que afeta o país e a corrupção que tomou conta do setor". Lara foi, até 2004, gerente geral do Escritório de Operações do Sistema Interconectado da Venezuela, hoje transformado no Centro Nacional de Gestão do Setor Elétrico. Depois de 30 anos de serviço, o engenheiro foi afastado do cargo após assinar um manifesto a favor da realização do referendo sobre a continuidade de Chávez no poder.
- O governo disse que eu representava um risco para o setor elétrico nacional - disse Lara ao GLOBO.
Falta de manutenção
O engenheiro disse ter alertado várias vezes, nos anos anteriores a sua demissão, o Palácio Miraflores sobre a necessidade de realizar obras, atualizar equipamentos e outra série de ações que, segundo Lara, teriam evitado o drama que vive atualmente o país.
- Não só não seguiram nenhuma de minhas recomendações, como transformaram o setor elétrico num cassino, comandado por dirigentes políticos sem capacitação - afirma o engenheiro.
Desde então, disse ele, os equipamentos se deterioraram de forma expressiva, não foram realizadas as obras que o país precisava e o setor foi totalmente politizado. O governo estatizou várias empresas elétricas e criou a questionada Corpoelec.
- A crise do setor elétrico é consequência da ineficiência medular do sistema de empresas socialistas - assegurou o economista Orlando Ochoa, professor da Universidade Católica Andrés Bello.
Para ele, com uma inflação real que no ano passado chegou a 30% e tarifas subsidiadas pelo Estado, o caixa das empresas é cada vez menor, os recursos para fazer a manutenção dos equipamentos são insuficientes e o governo não consegue fazer os investimentos necessários.
- A politização das empresas estatais as transformou em gigantes que atuam em função de um projeto político, mas são absolutamente negligentes - enfatizou Ochoa.
Durante a campanha, Chávez evitou mencionar os fatídicos apagões. Já o seu adversário, Henrique Capriles, prometeu uma “Venezuela iluminada” caso consiga derrotar a revolução chavista nas urnas. Ele apresentou um plano que prevê a realização de 22 mil obras de infraestrutura, entre elas as necessárias para começar a resolver o pesadelo dos cortes de eletricidade.
- Atualmente, existem lugares de nosso país que ficam até 40 dias por ano sem luz, por falta de manutenção. Todos os venezuelanos queremos e teremos uma Venezuela sem apagões - afirmou.
Efeito dominó
Em 2000, quando a revolução bolivariana dava os primeiros passos, Miguel Lara registrou 55 cortes de eletricidade no país. Desde 2009, há mais de 330 interrupções de fornecimento por ano, e entre janeiro e agosto de 2012, o número chegou a 501. Na opinião do engenheiro, “a principal empresa do setor deixou de ter o usuário como prioridade e passou a estar a serviço de um projeto político”.
- Nossa oferta de energia não cresceu e qualquer falha no sistema provoca interrupções prolongadas no fornecimento de energia elétrica - afirma Lara.
 

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