Mariana Timóteo da Costa - Enviada especial
CARACAS - A crise de energia que afeta a Venezuela e a insistência do presidente Hugo Chávez em chamar técnicos cubanos para ajudá-lo a resolver o problema vêm causando revolta entre os mais de 200 mil engenheiros, arquitetos e técnicos do setor no país. Desde quinta-feira, várias associações científicas manifestam seu repúdio à política energética do governo que, segundo os especialistas, não investiu em novas matrizes, sejam elas alternativas ou mais convencionais como termoelétricas, limitando-se a depender da Hidrelétrica de Guri, que produz 70% da energia do país e trabalha abaixo de sua capacidade por conta da ausência de chuvas. Os acadêmicos chegaram a propor uma ideia no mínimo controversa: prolongar o fim de semana para três dias, e, ao mesmo tempo, impedir que estabelecimentos comerciais e indústrias funcionem aos domingos, para poupar energia.
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- Temos consciência de que isso pode impactar até 20% do PIB, mas é para evitar danos maiores, que já ocorrem: maquinário quebrado por causa dos apagões e a paralisação de várias atividades - disse José Manuel Aller, engenheiro da Universidade Simón Bolívar e um dos autores da proposta.
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Para Amorim, maioria não parece insatisfeitaSegundo ele, as termoelétricas responsáveis pelos demais 30% da energia não funcionam bem, porque "Chávez nunca investiu nelas". Victor Polleo, um ex-diretor do Ministério de Energia Elétrica de Chávez, entre 1999 e 2001, concorda:
- Deixei o governo por isso, porque tinha muitas propostas de modernizar nossa matriz, e Chávez nunca quis saber delas, apesar de ter em mãos um orçamento de US$ 50 bilhões só para isso. Deixar de investir foi mais uma das muitas irresponsabilidades deste governo que só valoriza a opiniões dos militares.
Os dois especialistas criticam a presença de pessoas como o ministro cubano Ramiro Valdés no país, que foi convidado por Chávez para tentar solucionar a crise - apesar de ser acusado pela dissidência cubana de, na verdade, ser especialista em censurar a internet.
- Não me surpreenderá em nada se esse Valdés mandar os venezuelanos não usarem mais computador nem internet para poupar eletricidade - diz Aller.
O racionamento de luz atinge praticamente todas as cidades, com exceção da capital que, no 13 de janeiro, ficou parcialmente às escuras a mando de Chávez. A medida foi tão impopular que ele acabou voltando atrás.
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o presidente defendeu a presença de Valdés, afirmando que "a burguesia está paranóica" e que, assim como chama técnicos de Cuba, "já solicitou a consultoria de engenheiros argentinos e brasileiros". Chávez também voltou a criticar o movimento estudantil:
- Não são estudantes, são fascistas, focos subversivos - declarou, ao anunciar um plano de combate à insegurança, o Dispositivo Bicentenário de Segurança (Dibise), em outro foco da crise que atinge o governo.
Durante uma visita a Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou a crise política venezuelana e reiterou que o Brasil não pretende interferir:
- Não posso julgar. Os povos, quando estão realmente insatisfeitos, encontram sua maneira. Não me parece que a maioria esteja insatisfeita.
De acordo com o ministro, "a experiência que temos é de que a Venezuela tem feito eleições regularmente e seus resultados têm sido respeitados".
- Se nós faríamos da mesma maneira é outra questão. Em política você pode ser mais eficaz através do exemplo - afirmou Amorim, questionado sobre as críticas que o Brasil costuma receber da oposição venezuelana. - Democracia perfeita, se formos procurar, teremos muitas decepções em muitos lugares.
Na próxima semana, o Brasil enviará uma equipe de técnicos do Grupo Eletrobrás para avaliar a situação e o que é possível fazer para que a geração de energia seja garantida ao menos pelos próximos 20 dias. Ontem, o Ministério de Minas e Energia sediou uma reunião sobre a ajuda à Venezuela. Cinco técnicos venezuelanos participaram.
COLABORARAM Catarina Alencastro, de Brasília, e Janaína Figueiredo, de Buenos Aires
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