viernes, 19 de marzo de 2010

Racionamento de energia impõe um sofrido cotidiano de calor e penumbra a venezuelanos

Mariana Timóteo da Costa
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CARACAS - Um vendedor de pipocas dos Cines Unidos, complexo com sete salas de cinema localizado no Sambil, o maior shopping center de Caracas, está desolado com a atual crise energética que afeta o país. Ele prefere não se identificar com medo de represálias - coisa extremamente comum nos dias de hoje na capital venezuelana - mas explica seus motivos:

- A frequência do cinema caiu e, por isso, estamos vendendo menos pipoca na lanchonete. Temos ainda que trabalhar na penumbra, faz muito calor e não temos mais como nos distrairmos com trailers dos filmes em cartaz que passavam nas telas, hoje apagadas, aqui em frente à loja - conta.

" O sistema energético do país é atrasadíssimo "

A razão de tudo isso são os cortes de energia impostos no mês passado pela Corpoelec (Corporação Elétrica Nacional), estatal venezuelana que administra o setor energético, numa tentativa do governo de Hugo Chávez de evitar o colapso no fornecimento do país. Estabelecimentos comerciais como os Cines Unidos estão entre os mais afetados, já que precisam cortar, mensalmente, 20% de sua energia em relação ao mesmo mês do ano passado. Quem não corta é notificado com uma placa com letras em vermelho, colada na frente do estabelecimento, e corre o risco de ter a eletricidade cortada por 24 horas, depois 48 horas e assim sucessivamente.

O ar-condicionado dos cinemas, por exemplo, só funciona (quando funciona) até as 18h, porque a noite caraquenha é bem fresca. Mas, para que os clientes não morram de calor, explica o vendedor de pipocas, "eles colocam para vender somente 50 ingressos para uma sala onde cabem 150 pessoas". As lojas do Sambil e de outros shoppings como o Millennium operam com luz fraca, as escadas rolantes funcionam apenas para quem sobe e os elevadores são constantemente desligados. Uma imensa fonte de água localizada em frente ao Sambil já não opera mais. O horário de funcionamento de todos os centros comerciais e lojas de Caracas também foi alterado em pelo menos duas horas para poupar energia.

- Nossa temperatura ambiente era de 17 a 18 graus. Agora é 24 graus. Muita gente que vem comprar aqui, principalmente idosos e crianças, reclama do calor. E eles ainda têm medo de comprar produtos estragados - diz Hernan Martinez, segurança do Excelsior Gama, um dos melhores supermercados da capital.

" Por que um país tão rico em petróleo não investiu em termoelétricas? Ou em outras matrizes? Não dá para entender "

A hidrelétrica de Guri - responsável por quase 70% do fornecimento de energia da Venezuela - encontra-se hoje com apenas 240 metros, o limite mínimo de emergência. Cortes de energia de até 24 horas já são algo comum em várias cidades venezuelanas desde o fim de 2009. Mas, em Caracas, o governo não conseguiu adotar a medida impopular e, no mês passado, veio com o plano de cortes.

- Desde o mês passado, vivo rodeado de planilhas e fazendo contas. Já cortamos o funcionamento do ar-condicionado do saguão, de alguns fornos elétricos na cozinha e o aquecimento da água da piscina. Mas 2009 era ano de crise, em 2010 a frequência do hotel está muito maior. A única maneira de cortar 20% é comprarmos geradores que custam até US$ 300 mil. Hoje, deixamos os geradores ligados quase 10 horas por dia - diz o engenheiro Miguel Olivo, gerente de manutenção de um hotel cinco estrelas.

Os cortes também se estendem às residências. Só que, como explica Olivo, são pouco eficazes, já que o que o governo oferece são descontos na mensalidade para quem economiza em eletricidade.

- E sabe em quanto fica uma conta mensal de luz aqui? Para uma casa de três quartos? Em torno de US$ 10. Assim como o petróleo, o governo populista subsidia a energia. Quem vai querer economizar para ter desconto numa mensalidade que já é tão baixa? Chávez deveria ter coragem de aumentar a conta de luz, mas isso ele não quer, para não afetar sua popularidade - explica o engenheiro.

Um levantamento da Conindustria (Confederação Venezuelana de Indústrias) divulgado esta semana mostrou que 93% das indústrias do país já têm a produção afetada pelas políticas de racionamento do governo.

- E a situação só vai piorar, se não começar a chover logo para a água de Guri subir. O sistema energético do país é atrasadíssimo. Por que um país tão rico em petróleo não investiu em termoelétricas? Ou em outras matrizes? Não dá para entender - critica José Manuel Aller, engenheiro da Universidade Simón Bolívar, que acredita que já há uma queda de entre 20% e 25% na produção industrial devido ao problema.

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