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O Globo Mundo
José Manuel Aller, professor da Universidade Simón Bolívar, atribui apagões a mau gerenciamento e investimento inadequado
Para ele, oposição não conseguiria boicotar serviço supervisionado pelos militares e administrado exclusivamente pelo Estado
‘Podemos comparar a nossa situação a de países africanos’, diz Aller
RIO - Ficar às escuras já não causa tanta surpresa para os venezuelanos, acostumados com blecautes constantes no país. A incógnita é saber quem é o responsável pela onda de apagões que tomou a Venezuela desde a estatização do setor, em 2007. De um lado, os chavistas atribuem as constantes quedas de energia a sabotagens da oposição. Os opositores, por sua vez, culpam o governo de Nicolás Maduro. Dos 19 estados atingidos pelo apagão da noite de segunda-feira, quatro ainda estavam sem luz na tarde desta terça.
Para o professor da Universidade Simón Bolívar e doutor em Energia Elétrica, José Manuel Aller, a justificativa é simples e vem de uma combinação que mistura investimento e planejamento inadequados, gerência ineficaz, falta de manutenção e operação precária.
- O governo investe muito, mas mal. É evidente que a má gerência dos fundos afeta negativamente o sistema - disse ele, que foi assessor de sistema de transmissão e geração de energia de empresas públicas e privadas na Venezuela.
Aller descarta um boicote da oposição. Segundo ele, o único possível autor de uma sabotagem seria o próprio governo devido à militarização do serviço que é controlado exclusivamente pelo Estado.
- O governo imediatamente culpou a oposição, dizendo que estaria preparando um golpe de Estado. Mas temos que recordar que o sistema está militarizado e é gerenciado só pelo Estado. Não faz sentido, a menos que seja o próprio governo para tentar frear o avanço da oposição e culpar seus membros. Há militares nas empresas, nas linhas de transmissão. O sistema é absolutamente supervisionado.
Os apagões cresceram vertiginosamente após a nacionalização das empresas. Saltaram de 40 a 50 blecautes superiores a 100 Megawatts por ano para 800 em 2012 em todo o país, segundo Aller, citando dados extraoficiais. Hoje, todo o sistema é administrado pela Corporação Elétrica Nacional, que integrou as 16 empresas existentes em 2007, de acordo com o professor.
- Antes, contávamos com um sistema confiável, que tinha qualidade. Os principais apagões começaram em 2008 - afirma ele, acrescentando que o tempo para a normalização do sistema também piorou, aumentando de duas horas para mais de sete. - Agora é ainda mais grave, podemos comparar a nossa situação a de países africanos.
Maduro faz apelo às Forças Armadas
Na noite de segunda, o presidente Nicolás Maduro voltou a culpar a oposição pelo blecaute. Ele fez um apelo às Forças Armadas para “defender o povo” e pediu que os venezuelanos ficassem em alerta. Na mesma linha, o ministro de Energia Elétrica, Jesse Chacón, afirmou à TV estatal que a falha foi “estranha e provocada” pela “direita fascista”.
Serviços de transporte e comunicações ficaram sem funcionar, causando mal-estar entre a população a apenas seis dias das eleições municipais, que de forma indireta medirá a popularidade de Maduro.
Em seus quase oito meses à frente do comando do maior exportador de petróleo da América do Sul, o presidente vem enfrentando, além de apagões, episódios de escassez e altos índices de inflação.
O líder da oposição, Henrique Capriles, classificou as declarações do governo de “patéticas” e cobrou responsabilização pelo incidente.
“O país é afetado por apagão, que gera intranquilidade, e porta-vozes do governo com declarações patéticas. Em algum momento de suas vidas sejam os responsáveis”, protestou o opositor em sua conta no Twitter.
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